Major PMMA Auceri Becker Martins |
A costumeira frequência com que ainda me percebo, na qualidade de Policial Militar, ser minimizado em meu papel social por quem, até mesmo desprovido de maldade, afere comentários sobre minha categoria profissional, por vezes, me faz desacreditar que, apesar de tanto empenho, trabalho e bancos escolares, um novo horizonte esteja em vias de alvorecer.
Esclareço meu parágrafo introdutório dizendo que fui interpelado por uma funcionária pública do legislativo que se dizia contrariada por não entender o papel dos policiais militares que prestavam serviços junto ao órgão onde ela trabalhava, pois não estariam policiando as dependências ou estacionamentos. Instintivamente busquei argumentar que os policiais que lá trabalhavam teriam funções bem mais relevantes em nível de assessorias, trâmite de informações e trabalhos entre instituições, contudo, fugia ao entendimento de minha audiente qualquer outra percepção, que não a herdada de quem a antecedera ou lhe é contemporânea.
Claro que pontuei esse fato para lançar à reflexão essa recorrente curva de erro conceitual incrustada no entendimento popular. Ao crivo do cidadão menos aprofundado em entendimentos institucionais ou até mesmo constitucionais, parece confortável arbitrar responsabilidades e reclamar bastante pois, a qualquer leigo, parece plausível a idéia que deve ser da Polícia a incumbência pela segurança do que quer que seja.
Isso posto, cabe a nós, os incomodados, a ponderação a respeito dos esforços que empenhamos na busca do extermínio desse paradigma, desde a mais simples conversa de butiquim até os píncaros palanquiais ou virtuais mais seletos.
A polícia Militar detém uma função das mais árduas, vez que atua na linha de frente em termos prevenção ao crime, prostituição, exploração sexual, sequestros, homicídios, prisão e desarticulação de criminosos, orientação escolar para o não uso de drogas e, sobretudo, na execução “in loco” das leis penais, tornando-as efetivas ao impor, presencialmente, seu cumprimento assim como, concomitantemente, e muito mais frequentemente que um cidadão comum possa imaginar, solucionar os seus conflitos, desconhecimentos e más interpretações.
Senhores, em tempos que, parafraseando o Delegado Archimedes Marques da Policia no Estado de Sergipe, a epidemia da insegurança se alastrou por todo o Brasil a própria sociedade se mostra preocupada com o problema e até já comunga com o preceito constitucional de que a segurança pública é responsabilidade de todos, e com isso já se formam movimentos diversos que objetivam maior interatividade com a Polícia para uma conseqüente união de forças de combate ao crime.
“A eficiência do trabalho policial está intimamente ligada ao bom relacionamento entre cidadãos e policiais”. (Archimedes Marques)
Já é máxima acadêmica em estudos do mais alto nível sociológico que a segurança pública é dever de todos. Não é exclusividade das polícias. Mas ainda assim, desempenhando nossa função nesse incêndio, entendo que o caráter militar do policiamento que prestamos, foi indigesto ao entendimento após o precesso de abertura que precedeu a democracia e, advém disso a gênese do problema das Polícias estaduais terem sido relegadas a uma espécie segundo plano, principalmente no que tange a valorização profissional. Essas polícias eram a personificação de um fantasma de estado repressor repudiado no processo de transição para a democracia ,e não seria no estado democrático que elas representariam ganho eleitoral. Não precisavam mesmo ser priorizadas.
Naquela decadência momentânea, que os dias de hoje provam ter sido inapropriada, se somaram várias culturas negativas que cresceram no entendimento popular relacionadas a despreparo, abusos, ilegalidades, clientelismos e muitos ranços da ditadura, tudo somando um leque pejorativo bem relevante em desfavor dos policiais fardados.
Sou de opinião que, visto a violência vigente, diferenciar papéis constitucionais e entender-nos fundamentais para o equilíbrio das relações sociais seja basilar, como argumento dialogal, desde ao mais imaturo ouvinte até nossos legisladores, para que haja o choque na percepção popular, passando conscencialmente a ser obrigação de cada policial militar, defender sua instituição.
Em foro doméstico, cabe-nos ainda, destruir os tótens edificados por gerações outras que, em momentos pretéritos, por conveniências, pouco se importaram com estereótipos da classe que estariam materializando em termos de parcialidades, injustiças, serviçalismos, condencendências, subserviências e principalmente, FUNÇÔES e COMPETÊNCIAS.
É esse antigo perfil deixado ao cidadão comum sob forma de legado, determinou a nós, policiais de hoje e sucessores, a conviver com esse errôneo rótulo servil de que nada possa mudar e talvez seja até mesmo correto perceber um policial militar apenas como um funcionário público “quase de segunda categoria”, ao qual devem ser afetas tarefas executivas e de desnecesário estofo intelectual.
Ora senhores, não somos profissionais de nível elementar ou médio, guardas, zeladores, porteiros, telefonoistas ou atendentes de órgõs públicos. Somos uma categoria especializada e aperfeiçoada, provida de entendimentos, discernimento, conhecimento, história e bastante tradição. É dessa Corporação, que foram requisitados específicos integrantes para desempenho de funções militares junto àqueles órgãos. Esse é o entendimento da questão!
Por que não cobrarmos, por isso, o devido respeito, apartir de já, a quem entendimento possua e, por caridade, prestemos alguma indulgência de quem, ainda por preconceito, ignorância ou mesmo herança histórica não reconhece o óbvio? E o óbvio é que nos requisitam por sermos disciplinados, organizados, competentes, articulados e protagonistas nos processos de avanços sociais. Somos uma das boas e seletas fatias dessa sociedade a qual protegemos e, ainda por cima, nos tornamos fomentadores de cidadania onde nos fazemos presentes. Portanto, instruam-se antes de tornar simplista a função de um PM.
Fonte: Auceri Becker Martins - Major PMMA
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